Dom Gilvan Francisco dos Santos, OSB
(Monge Beneditino)
Salvador, Bahia – 1º de dezembro de 2024
"Faze-me ouvir teu amor pela manhã, pois é em ti que eu confio; indica-me o caminho a seguir, pois eu me elevo a ti”. (Sl 143, 8).
Nós cristãos sabemos que o Ano Litúrgico da Igreja se inicia com o Advento. Esse período também é chamado de CICLO DO NATAL, nome adotado pelo calendário litúrgico da Igreja para indicar o TEMPO DO ADVENTO e o TEMPO DO NATAL de nosso Senhor Jesus Cristo.
A cor usada na liturgia da Igreja para esse período do Advento é a ROXA excetuando o terceiro domingo chamado de Domingo Gaudete, ou seja, o domingo da alegria ou o domingo rosa, no qual pode-se usar a cor ROSA nos paramentos e alfaias da igreja, pois nele as celebrações litúrgicas tem um tom mais festivo.
O período do Advento tem a duração de quatro semanas que antecede o Natal do Senhor Jesus Cristo. Nas duas primeiras semanas temos a expectativa da vinda definitiva de Cristo e as duas outras semanas são para a preparação da celebração do Santo Natal de Jesus, ou seja, a sua primeira vida ao mundo.
Nesse sagrado tempo a Igreja nos propõe a Esperança. A espera confiante para a vinda de Cristo. “Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel”. (Is 7,14), e a purificação da nossa vida. Portanto, ao celebrarmos esse santo Tempo do advento, abramo-nos a ação do Espírito Santo e deixemos ele agir em nós.
A Igreja na sua caminhada litúrgica nos proporciona dois tempos sagrados de uma maior conversão a Deus e de expectativa da vinda de Cristo. Estes dois ciclos são o sagrado Tempo do Advento e Tempo da santa Quaresma, ambos são tempos de expectativa, esperança e de conversão. Fiquemos atentos a essas chances que a Igreja na sua sabedoria, nos concede, para que assim possamos nos converter das nossas más condutas e dos nossos pecados, para celebrarmos com amor e piedade os santos mistérios do Nascimento, Paixão, Morte e a Ressurreição de Jesus; recebendo através destes mistérios as bênçãos de Deus.
Uma característica desse período é o costume nas igrejas e oratórios, fazerem a coroa do Advento. São quatro velas devidamente ornamentadas com as cores para cada semana; geralmente são verde, vermelha, rosa (3º domingo – Gaudete) e branca. Elas são acesas a cada domingo. Cores que engloba todo o ano litúrgico da Igreja e também são os símbolos das grandes etapas da salvação. A primeira vela a ser acesa no primeiro domingo, é a de cor verde. Geralmente são acesas antes da celebração.
Em todo esse período das celebrações para a vinda do Senhor, digamos com fé e perseverança com o coração sincero, a Deus: “[...]; indica-me o caminho a seguir, pois eu me elevo a ti”. (Sl 143,8). Aguardando na esperança alegre a promessa do mesmo Deus para nós, pois o profeta Isaías diz: “Gotejai, ó céus, lá do alto, derramem as nuvens a justiça, abra-se a terra e produza a salvação, ao mesmo tempo faça a terra brotar a justiça!” (Is 45,8). Nas celebrações em todo o santo período do Advento cantamos um belo hino chamado Rorate coeli, uma tradução desse versículo das profecias de Isaías, que fala sobre a promessa de Deus para o povo de Israel, fazendo uma prefiguração da vinda de Jesus Cristo, o Messias esperado, o salvador.
Nesse tempo privilegiado busquemos a fé, a caridade e a esperança, pois atualmente vivemos em um mundo cheio de orgulho, de autossuficiência, com um desprezo pelas coisas de Deus e pelo nosso próximo. É fato, que isso está gerando sérios problemas na vida das pessoas; problemas corporais em forma de doenças e principalmente no psicológico delas. Precisamos urgentemente tomar sérias medidas e decisões em nossa vida em relação a esses problemas sociais. Levantemo-nos do sono espiritual e do nosso comodismo. “Tanto mais que sabeis em que tempo vivemos: já chegou a hora de acordar, pois nossa salvação está mais próxima agora do que quando abraçamos a fé. A noite avançou e o dia se aproxima. Portanto, deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz”. (Rm 13,11-12).
Uma das primeiras medidas que devemos ter em relação a esse problema, é pedirmos a ajuda de Deus na oração e termos uma íntima amizade com ele. Uma segunda seria ficar mais atento às necessidades dos outros e, uma terceira, não menos importante, buscar a ajuda da medicina no caso das nossas doenças corporais e psicológicas. Esses são os passos fundamentais para uma vida cristã saudável e feliz.
Estamos vendo atualmente uma grande quantidade de pessoas sem propósitos algum em sua vida; em um faz de contas, não se importando com os resultados das suas ações e tão pouco preocupados com o seu próximo. Elas estão fazendo as coisas apenas por obrigação e sem amor algum, não querendo entender nem saber o propósito delas. Grande parcela dessa massa estão vazias e doentes por não analisarem mais as suas ações e as suas ideias. Por isso, constantemente devemos pedir que o Espírito Santo que nos conduza sempre. Dizendo como o salmista: “Vosso Espírito bom me dirija e me guie por terra bem plana”. (Sl 142). (Trad. Saltério Romano Monástico). Nós que somos cristãos devemos pedir a ajuda do Espírito Santo, pois é o Espírito quem santifica todas as coisas; para que ele possa nos conduzir por terrenos planos na nossa caminhada para o Reino de Deus. Peçamos que nos aqueça com o seu fogo de amor, porque a cada dia estamos vemos o esfriamento, o desânimo na vida de fé de muitos cristãos. Isso acontece porque não damos a importância devida à ação do Espírito Santo e aos mistérios da nossa fé. Por isso, fiquemos mais atentos a presença do Espírito em nossa vida, pois é ele que nos vivifica, santifica, ilumina e nos conduz a Deus. Por isso, esse salmo 142 vem nos alertar sobre esse pedido de socorro diante do Espírito, para que ele nos conduza e nos guie sobre terrenos planos, ou seja, na graça de Deus e nos retos caminhos. Portanto, nesse sagrado Tempo do Advento, abramo-nos a ação do Espírito Santo.
TEMPO DO ADVENTO
Primeiro Domingo do Advento
- Algumas normas do Diretório Litúrgico da Congregação Beneditina do Brasil referentes ao Tempo do Advento – Início do Ano Litúrgico – 1º.12.2024.
1. Até o dia 16 inclusive, não se permitem as Missas para diversas necessidades, votivas ou cotidianas pelos defuntos, a não ser que a utilidade pastoral o exija (IGMR, n. 333), mas podem ser celebradas as Missas das memórias que ocorrem ou dos Santos inscritos no Martirológio nos respectivos dias (IGMR n. 316b).
2. O órgão e os outros instrumentos musicais devem usar-se e o altar adorna-se com flores, com aquela moderação que convém ao caráter próprio deste tempo, de modo a não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor. No domingo Gaudete (3º do Advento), pode-se usar o cor-de-rosa (C.B., n. 236).
3. Na celebração do matrimônio, seja dentro ou fora da Missa, dá-se sempre a bênção nupcial mas admoestem-se os esposos a se absterem de pompa demasiada.
4. No Ofício:
a) Vigílias: antífonas do Invitatório “Vinde, adoremos o Rei que vai chegar”. Leituras do Ano II.
b) Vigílias, Laudes e Vésperas: hinos próprios.
c) Horas menores (ou Hora Média) e Completas: os hinos que se encontram no Próprio do Tempo.
d) Completas: Antífona mariana Alma Redemptoris (até a Festa do Batismo do Senhor, inclusive).
e) Na Bênção do Santíssimo, canta-se Rorate coeli com versículo e oração próprias.
5. Na Missa: leituras dominicais do ano C.
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REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.
DIRETÓRIO LITÚRGICO DA CONGREGAÇÃO BENEDITINA DO BRASIL / Rio de Janeiro: Edições Lumem Christi – 2024.
Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57,9)
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